quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Faça as pazes consigo mesmo!

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Viver é tão simples, a gente é que complica.
Pra que ficar atrelado a coisas que só nos consomem e nos fazem sofrer?
Pra insistir em manter-se em lugares/grupos/trabalho se estes não lhe fazem feliz, só lhe causam constrangimento e dor?
Como na parábola do urso, ficamos agarrados ao caldeirão fervendo, hipnotizados que estamos seja pela aceitação, seja por resquícios de afeto. Não vemos que estamos sendo destruídos, aniquilados, sufocados, esquecidos.
Nada do que fazemos é que esteja em desacordo com nosso coração, tem a menor chance de dar certo. Seremos sempre os segundos, terceiros ou décimos. Estaremos sempre em segundo plano.
E é tão difícil abandonar o barco...
É dificílimo!
Não existe receita pronta. O que existe é aquela vontade genuína de chutar o balde e recomeçar. As vezes ela não tem força suficiente pra prevalecer, e vamos ficando anestesiados. Essa vontade nunca morre, mesma que aos nossos olhos pareça que ela não existe mais.
Basta um amanhecer mais corajoso e lá vai a vontadezinha reacendendo.
Encoraje-se. Faça um limpa na sua vida. Comece pelo menor e logo estará eliminando os grandes monstros que se escondem embaixo de nossas camas.
Assim, olhar-se no espelho pela manhã será mais fácil. E aquele aperto no peito também diminuirá.
É preciso sermos mais generosos conosco mesmo.

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Eu só queria que você estivesse por perto

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Desce que eu tô chegando, vamos tomar uma cerveja
Eu não queria muita coisa. Quase nada, na verdade. Mas queria, queria muito que você estivesse por perto. E me bastaria o fato de poder dizer
passa aqui rapidinho
almoço hoje
desce que eu tô aqui embaixo
cerveja daqui meia hora
acelera que eu tô chegando
Eu não queria que a gente fosse no melhor restaurante, nem que estivesse um dia de sol fantástico. Não teria nenhuma dessas exigências. Pra mim, bastaria que a gente chegasse num boteco qualquer e
mesa de lata
cadeira de plástico
cerveja barata
guardanapo ruim
porção de fritas
Não precisaria ser um ambiente acolhedor, nem que nós não tivéssemos hora para voltar. Poderia ser um bar meio sujo, meio ruim. E poderia ser só uma horinha porque você tem
trabalho para acabar
sono atrasado
um prazo vencendo amanhã
um jantar que já estava marcado
o aniversário do seu chefe
Eu só queria que a gente se sentasse ali e eu estivesse em casa porque estou com você. E você estivesse em casa por estar comigo. E, por estarmos em casa, poderíamos falar sobre tudo. Sobre
não ter certeza
estar cansado
estar com medo
querer mandar à merda
estar arrependido
E aquelas suas palavras tão bem escolhidas acalmariam tudo. E as minhas palavras tão mal escolhidas te fariam rir. E a gente mudaria de assunto e passaria a tratar de temas relevantes como
Ressaca de catuaba
o novo sanduíche do Mc
o namoro da Fatima Bernardes
exceção ou excessão
mostarda ou ketchup na batata
E passaríamos de um assunto a outro naquela velocidade tradicional, até já não fazermos ideia do que estávamos falando. Mas não importa. Já teríamos passado por temas como
reforma previdenciária
pablo vittar
ganho de peso
casamento dos outros
caneta marca texto
E, como sempre, não chegaríamos a conclusão nenhuma. Sobre nada. Porque o objetivo nunca foi esse. O objetivo era só estar. O objetivo era apenas provar para o mundo que você ainda está por perto. E eu também
falando bobagem
entendendo tudo
dizendo vai em frente
mandando parar de merda
pedindo outra rodada
E eu estaria nutrida. De cerveja, de batata e, sobretudo, de você. E você estaria com a mais plena certeza de que eu estou aqui. Tanto quanto você está. Mesmo que seja de longe. Mas hoje eu queria que fosse de perto.

Ruth Manus

quinta-feira, 1 de junho de 2017

A MÃO DA FILHA


Rituais me comovem. E ainda mais quando são desnecessários.

Um deles é quando o jovem pede a filha em namoro para os pais.

Ninguém usa cerimônia para começar um relacionamento. Namoros se iniciam com um clique no Facebook e terminam com o bloqueio no Facebook.

Por isso me espanta quem enfrenta a família da pretendente. Quem se importa com a opinião dos mais velhos, em empenhar a palavra, em olhar nos olhos, em indicar firmeza de laços.

Não é tarefa pequena criar um compromisso com o futuro, transparecer intenções sérias, evidenciar que não está brincando, admitir que está apaixonado e arcar com as consequências da escolha.

Há uma tendência em ser imediatista e descomprometido, em privilegiar o presente e a independência do desejo. É cômodo manter o romance a dois, qualquer ruptura não terá efeitos públicos, é sair e se desligar com facilidade. Os segredos ficam restritos e não interessa aos demais.

Sou absolutamente sentimental com a coragem dos românticos.

O adolescente que rompe com o egoísmo e divide suas expectativas é um louco de minha mais completa admiração. Olha que coisa estranha de se dizer: loucura hoje é ser tradicional, é se apegar, é honrar o núcleo familiar, é oficializar o arrebatamento.

Quem pede em namoro diante da família não pode fugir de repente, mudar de ideia e desaparecer. Declara o endereço de seu coração, o CEP, o CPF, mostra quem é e o que deseja.

Quem tem essa ousadia de não voltar atrás em seus próprios sentimentos e honrar promessas? De se incomodar em ouvir o que os outros pensam, em suportar o constrangimento do primeiro encontro e a secura da garganta?

Ficar na sala aguardando o momento certo de abrir a boca entre o comercial e a novela. Escolher as frases mais sensatas e tentar encontrar clareza para expor pensamentos confusos e emaranhados da paixão.

E não é somente falar, é estar receptivo a um sermão, a uma negativa, a restrições, a represálias. É se colocar dentro de um convívio, com regras e ritmo desconhecidos.

Mais do que educação, significa respeito. É cuidar daqueles que cuidaram dela antes. É proteger aqueles que dedicaram a vida a protegê-la.

É valorizar o passado da mulher, abrir um novo ciclo e arcar com as expectativas dos atos.

É avisar a família antes do mundo — quer uma prova maior de reverência?

Meu amigo Claiton teve essa dádiva. Quando o rapaz pediu sua filha em namoro, ele baqueou pelo reconhecimento, surpreendido pelo tamanho cuidado.

Recebeu o candidato para um café. Aguardou que ele falasse, falasse, falasse de toda sua fé e o quanto estava sendo feliz.

Assim que ele pediu a mão de sua filha, Claiton não facilitou. Emudeceu longos minutos. Encarou ambos, respirou fundo e confessou:

– Não lhe dou a mão de minha filha, deixa a mão comigo, tá? Você já tem todo o corpo e alma dela, a mão é minha. A mão é do pai se ela precisar voltar, se ela precisar que eu a puxe de volta. Combinado?

Quando o homem faz um pedido formal de namoro, ele oferece algo muito importante e inesquecível à sua namorada: a declaração de amor do pai.

Permita essa delicadeza para sua mulher.

Publicado no jornal Zero Hora
Revista Donna, p.6
Porto Alegre (RS), 1/6/2014 Edição N° 17815

Caminhos.



Sobre as escolhas e batalhas que travamos intimamente, decidindo dia a dia como desejamos habitar nossa própria história.


 Ontem, a lição de casa do meu filho trazia um desafio. "Peça para seus pais lhe contarem uma escolha que tenham feito, e como isso afetou a vida deles". Deixei a missão por conta do meu marido. Ele tem uma história bonita, de força de vontade e superação, que definiu seu destino a partir de uma escolha, inicialmente feita por seu pai, mas acatada e vivenciada por ele. No trabalho que entregou hoje na escola, havia duas imagens. Numa, o desenho de um menino com uma enxada na mão; na outra, um médico de jaleco branco e maleta em punho.
Porém, muito além de uma escolha meramente profissional, a decisão de deixar o trabalho na lavoura e ingressar na faculdade de medicina foi uma guinada na vida do menino que até os dezessete anos não conhecia luz elétrica, vivendo num sítio onde a ocupação maior era ajudar o pai com a enxada, perturbar a vida dos bichos e ir para a escola rural, onde várias turmas, em diferentes estágios de aprendizado, tinham aulas na mesma sala. Não havia água encanada, automóvel, muito menos tv ou geladeira. Ao escolher a faculdade, uma nova versão foi escrita. E percorrer esse caminho pode ter sido tudo, menos simples.
Enquanto orientava meu menino, me veio à lembrança trechos de Eliane Brum, em seu mais recente livro, "Meus desacontecimentos". Logo no comecinho ela questiona, indagando 'como cada um inventa uma vida. Como cada um cria sentido para os dias, quase nu e com tão pouco. Como cada um se arranca do silêncio para virar narrativa. Como cada um habita-se'.
Por enquanto, meu menino só pode entender acerca de escolhas palpáveis _ coleção de figurinhas da Copa ou cartas pokémon, matinê no cinema ou festa do amiguinho, crocs ou tênis, pijama curto ou longo, 'o que vou ser quando crescer', que livro vamos ler antes de dormir. Com o amadurecimento, virão questões mais relevantes, entroncamentos no meio da estrada que fatalmente lhe desafiarão a dar uma resposta que possivelmente conduzirá seu destino.
Nesses momentos, o controle estará em suas mãos. O trajeto escolhido determinará uma nova versão de si mesmo. Porém, muito além das direções que se distribuem pelo caminho, haverão outras questões, não tão óbvias, mas ainda mais perturbadoras e íntimas. Essas serão as mais difíceis. Porque a batalha será travada não somente entre profissões, negócios, status e pessoas. Serão decisões mais profundas, que fará diariamente, dentro de si mesmo, envolvendo a forma como deseja viver e responder àquilo que não pode controlar.
Todos os dias, meu filho, você terá que escolher de que forma irá habitar-se, para o bem ou para o mal. Porque a gente escolhe fazer-se muito mal também. E o pior é que nem se dá conta disso, acostumados que estamos em não nos enxergarmos ou ouvirmos no meio de tanto barulho que há lá fora. Então imaginamos que o que não vai bem é a rua, o fulano que não vai com a nossa cara, a esposa que ronca, o marido que não colabora... mas no fundo somos nós. Nós, que nos afastamos da verdade, e preferimos nos refugiar numa vida inventada que justifique nossas mazelas. Assim, se posso dar-lhe um conselho, escolha fazer-se bem.
É importante também que saiba escolher suas batalhas. Que não perca tempo com expectativas irreais, aquelas que não levam a lugar algum. Nem imagine que seu jeito de ser e viver é o certo para todos. Certamente é o certo para você, mas não julgue nem discrimine quem reconhecer outras formas de construir uma vida. Você descobrirá que nessa selva existem leões e cordeiros, bichos preguiça e guepardos, e não cabe a você querer que todos sejam leões, só porque você escolheu ser um. Depositamos muito da gente nos outros. E muito dos outros é depositado na gente. Desejamos que o outro seja como nós mesmos seríamos no lugar dele, mas quem sabe o que vai dentro do coração alheio?
Uma das lições mais difíceis de se aprender nessa jornada é a questão da aceitação. A gente traça um roteiro próprio, estabelece metas, acrescenta vontades, junta uma grande dose de sentimentos e espera que tudo corra conforme o combinado. Criamos expectativas em cima de pessoas tão diferentes de nós, querendo que elas sigam o script, ou que, pelo menos, obedeçam nosso combinado. Se somos tigres ferozes, nos indignamos com a serenidade dos coalas. Se temos a agilidade do beija flor, nos impacientamos com a lentidão dos caracóis. E de repente você percebe que está numa batalha que nem escolheu estar, tentando se defender de quem julga lhe conhecer melhor que você. Portanto, mesmo que discorde ou acredite conhecer aqueles que ama, entenda que jamais o saberá por completo, pois cada um carrega muito mais bagagem do que supomos desvendar.
Tenho escolhido muito também. Cansei de ser um rio turbulento, e essa escolha tem feito meus barcos de papel resistirem com mais leveza desde então.
Assim, trace seus caminhos com cuidado, sem se deixar influenciar pela linhagem de sua família _ essa coisa de sobrenome ou árvore genealógica não pode ser responsável por nosso destino. Não é preciso perpetuar as características, principalmente se não concordar com elas. O que vai dentro de você é resultado de uma equação complicada, que começou antes das primeiras palavras, e dar sentido a isso é responsabilidade sua e de mais ninguém.
Quanto a seu pai, a escolha não foi simplesmente entre ser médico ou caminhoneiro, como ele tanto queria. Suas maiores batalhas foram travadas do lado de dentro, tentando superar os próprios obstáculos_ como a timidez quase paralisante_ e a resolução de habitar-se com coragem, humildade e serenidade.
Finalmente lembre-se: a vida não é e.x.a.t.a.m.e.n.t.e. como a gente quer. E por mais que seja tentador ditar as regras, não temos controle sobre tudo. Então escolha somente fazer-se bem, principalmente quando tudo parecer errado, confuso ou ruim do lado de fora. Mais importante que o enredo, o que vale é como você se portou dentro da história que contou.

http://lounge.obviousmag.org/fabiola_simoes/2015/04/caminhos.html

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Eu ainda estou aqui por trás de todo caos...

Saudades de um espaço pra conversar comigo mesmo. Ouvir somente o eco das minhas idéias, das minhas angústias, dos meus medos...
Ainda não é uma volta, somente um ensaio sobre a solidão. Vamos esperar...

terça-feira, 2 de junho de 2015

Abandono

Revista Vida Simples - Abandono

CONFISSÃO



Tente dizer eu te amo para quem você não ama.
Vai fracassar. A declaração trava, engasga, nem com cachaça para descer.
O eu te amo não permite impostores. Não aceita mentirosos, falsificadores, farsantes.
Você não precisa ter absoluta certeza para dizer o eu te amo, mas não pode ter dúvida.
O eu te amo depende do ato de se imaginar junto, de se imaginar acordando e dormindo junto, de prever viagens e longas conversas de madrugada.
Você não precisa acreditar cem por cento na relação, mas já sente a esperança de amar, a possibilidade de amar, a facilidade de amar.
Não dá para dizer eu te amo quando percebe que não há futuro.
Talvez seja o momento mais cruel de um encontro, deixar alguém no vácuo, condenado a não responder para quem confessou te amar.
Poderá contemporizar e explicar que gosta muito, que vem curtindo o convívio, que adora a companhia. Não é a mesma coisa.
O eu te amo é tão sério que não tem como brincar. É uma confissão de morte. A morte do que você já foi um dia.
Fabrício Carpinejar

A SURRA DE CINTO


Meu amigo levou uma surra do pai aos 13 anos, de cinto.
Foi a primeira e única surra que recebeu na vida. Por uma injustiça. Responsabilizado por quebrar o rádio que nem usava. Um rádio que deveria ter estragado pelo mau contato do fio.
A fivela marcou suas costas.
Quando apanhou no quarto, não gritou por socorro, não chorou, não esperneou. Manteve-se obediente até o final do castigo, ficava preocupado em localizar a língua de metal. E se distraía tentando adivinhar os próximos ricochetes do ferrinho em sua pele.
Seu pai já não ajudava na demonstração do afeto: quieto, casmurro, de poucas palavras. Depois disso, a admiração tácita pelo papel de cuidador também se desfez lentamente. Nem o silêncio entre eles se salvou, evitavam olhar-se nos olhos.
Em toda conversa com o pai, esperava um pedido de desculpas, que não veio. Ambos comiam de cabeça baixa, como cavalos cansados.
O pai explodiu porque estava desesperado, irritado, preocupado com falta de vaga na construção civil e com a demora em arranjar um novo posto de trabalho.
O filho era a pessoa mais próxima no momento de raiva. Dependendo das circunstâncias, poderia ter sido a mãe, o irmão, o cachorro em seu lugar.
Só que sobrou para ele. E ele cresceu, casou, teve uma filha, obteve reconhecimento como professor universitário, abriu uma empresa de engenharia, mas jamais esqueceu o assunto. Seguiu adiante na vida, ainda que engasgado pela incompreensão do sangue. Amadureceu de um jeito ou de outro, pela convicção da aparência, apesar de permanecer parado na mesma lembrança.
Um dia, quando ele já ultrapassara os 40 anos, o então velho pai entra em sua residência, senta para tomar café da manhã. Cumprimenta a nora e a neta e se põe em sua frente com a pupila mareada.
Do nada, sem nenhum contexto, enquanto abria o pão com suas mãos macilentas e veias azuladas, o pai começa a se desculpar:
– Lembra quando eu lhe bati em sua infância? Lembra? Você estava na oitava série. Eu queria pedir perdão. Estava fora de mim. Foi um erro, um grande erro.
Quando finalmente obteve a retratação, o que ansiava ao longo de 27 anos, o filho não tirou proveito da situação, não foi arrogante, não descontou a raiva, não se prevaleceu, não julgou a demora, não condenou o atraso, não jogou na cara que pensou naquilo todos os dias, preferiu aliviar o sofrimento paterno, optou por cuidar do constrangimento paterno, o amor ao pai superou seu orgulho ferido, e apenas disse:
– Nem me lembro, pai.

Carpinejar

Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, p. 4, 02/06/2015
Porto Alegre (RS), Edição N°18181

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Reaquecendo...


Quanto tempo ainda vamos perder?

“A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.”
Ah, Drummond.
Ele sempre foi minha grande paixão. Mas essa frase… Essa frase é especial. Foi a frase que minha amiga amada pediu para pintarem na parede do seu quarto quando começou a quimioterapia. E ela viveu todos seus dias intensamente, com um sorriso no rosto, pedindo pra ficar mais um pouco.
Até que um dia ela se foi. E eu, aos 18 anos, me prometi que viveria por mim e por ela. Que não teria medo de arriscar e que nunca faria da minha vida um mero encadeamento de dias. Estou tentando.
Então, diariamente, uma pergunta martela na minha cabeça: quanto tempo perdemos?  E quanto tempo ainda vamos perder?
Porque me falta tempo; porque acordo cedo amanhã; porque tô com enxaqueca; porque tô de dieta. Com excesso de zelo, excesso de cautela, excesso de fé na ideia de que sempre pode ficar para amanhã.
Chega, vai. A vida é só uma e a vida passa correndo. Quando a gente vê, já passaram as chances e tudo o que sobra na cabeça é um triste e fosco rol de hipóteses não tentadas e de riscos não corridos.
E essa conversa não é necessariamente sobre projetos grandiosos. É simplesmente sobre sopros de liberdade. Sobre uma vida mais feliz por ter menos regras intransponíveis.
É sobre pegar um cinema sozinho, de preferência numa terça-feira.
Sobre comprar uma passagem poucas horas antes do voo. E ir só com a roupa do corpo.
Sobre voltar da padaria com um sonho pro porteiro do prédio.
Sobre ir de pijama à garagem buscar aquele negócio que ficou no carro.
Sobre entrar no elevador com a toalha de banho enrolada na cabeça
Sobre comer jiló, javali, jaca, jacaré.
Sobre pedir desculpas por um erro de 2002.
Sobre pegar insetos nas mãos.
Sobre ligar, dizer que sente falta, que sente muito, que sente que pode ser agora.
Sobre comprar aquela peça de roupa que você sempre namorou, mas que acha inadequada para a sua idade ou para o seu tipo físico.
Sobre fazer caretas para as crianças da perua escolar no trânsito.
Sobre parar num bar e tomar uma, duas, três cervejas só na sua companhia, em horários inadequados.
Sobre deitar na cama, dormir de roupa, sem escovar os dentes.
Sobre finalmente mandar pessoas tóxicas à merda.
Sobre cortar curtinho, pular do alto, nadar no fundo.
Sobre um belo dia resolver mudar e fazer tudo o que se quer fazer, se libertando daquela vida vulgar que a Rita Lee cantou.
Sobre não se render mais um dia à tal prudência egoísta que nada arrisca de Drummond.
Porque é fácil levar uma vida banal e queixar-se a respeito dela. Mas será que quando a vida não é fantástica, a culpa é do destino ou a culpa é nossa?
Eu não sei se a vida é curta, mas sei que essa vida é uma só. E que o tempo não volta.
A gente tem que fazer o que tem que ser feito.
Pode ser hoje. Façamos ser hoje.

Ruth Manus
20 maio 2015

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

O PLÁSTICO DO BANCO DO CARRO


"Lembrei-me de uma historia sobre uma médica conhecida aqui em Maceió, que trocava o carro de dois em dois anos. Pois bem, acontece que a doutora era extremamente zelosa com seus carros comprados novos em folha, tanto que não removia os plásticos que vinham no estofamento do veículo. Sorte daquele que comprasse seu carro usado.
Um belo dia ao vender seu automóvel com dois anos de uso, o felizardo comprador olhou o estado do carro e os plásticos no banco e vibrou:
- Poxa, o carro tá novinho e ainda com o plástico!
E arrancou vigorosamente esses benditos plásticos feliz com a compra realizada.
A médica olhou atônita a cena e imediatamente percebeu quão tola estava sendo nesses anos todos. Quantas vezes sentou no banco quente sobre o plástico que colava desconfortavelmente em sua pele suada? Fora o barulho e a sensação incômoda do contato do seu corpo...
Então ela percebeu que guardava o SEU carro, abria mão do SEU conforto para o próximo dono...
Reflexão dessa história:
Quantas vezes damos o nosso melhor na rua, no trabalho, com colegas, e negligenciamos nossa família e nós mesmos?
Quantas vezes deixamos de viver o hoje pensando em valorizar bens materiais ou impressionar pessoas que nem vale a pena?
Portanto, meus amigos, rasguem o plástico do banco hoje!

Walmar Coelho

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Amor ou vício?

Um texto belíssimo que fala da nossa dificuldade de abandonar o que não é mais pra ser...

“Concedei-nos Senhor, serenidade necessária, para aceitar as coisas que não podemos modificar, coragem para modificar aquelas que podemos e sabedoria para distinguirmos umas das outras.”

Reihold Niebuhr

Será que você gosta mesmo ou só está viciado(a)? Não , você não entendeu errado, a pergunta é essa mesmo: É amor ou droga?

Alguns relacionamento são tão lesivos que consomem as pessoas como drogas e , como qualquer outro vício, às vezes é necessário até ajuda externa para largar. E o pior, juramos por tudo que é mais sagrado que é amor. Não é!

Amor não machuca, não diminui, não humilha, maltrata, troca, nem muito menos prende… Amor, de verdade, nos faz crescer, nos faz querer sermos melhores não só para nós mesmos, mas para o bem de outra pessoa. O verdadeiro amor liberta!

Então, como em um tratamento de choque, experimente fumar aquele último cigarro, dar o seu derradeiro trago no “amor” e depois jogue o maço fora. Abandone-o de vez,esqueça, corte o mal pela raiz e nunca mais ouse a acendê-lo!

Diga não as drogas!

Afaste-se de gente complicada, simplifique sua vida a engrandeça seus pensamentos, abra seus horizontes. Viaje, caminhe, dance, trabalhe, divirta-se, cante,cozinhe, brinque, ria, faça amigos, leia um livro! Leia “Pimentas” de Rubem Alves, garanto que será um excelente “detox”!

Aí, um dia, como outro qualquer, você descobre que não é preciso muito para ser feliz, que ficar sozinho(a) não é o fim do mundo, e que aquilo que você achava ser a metade da sua laranja, era, na verdade, um abacaxi!

Então amigo(a), desapega, desintoxica e vai viver!


Laura Barreto

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Não existe dia ruim.

 
Não existe dia ruim. Sempre há chance do dia ser feliz. Mesmo que seja tarde. Mesmo que seja de madrugada. Uma gentileza salva o dia. Um bife milanesa salva o dia. Uma gola branca e engomada salva o dia. Uma emoção involuntária salva o dia.
Nunca o dia está inteiramente perdido. Não devemos acreditar que uma tristeza chama a outra, que se algo acontece de errado tudo então vai dar errado. Lei de Murphy não foi aprovada pela Câmara dos Deputados.
Confio no improviso, na casualidade, no movimento das cortinas na janela.
Até o último minuto antes da meia-noite, você pode resgatar o contentamento. É uma gargalhada do filho diante da papinha, transformando a cadeira num imenso prato. É algum amigo telefonando para confessar saudade. É sua mulher procurando beijar a orelha mandando sinais de seu desejo. É o barulho da chuva na calha, é o estardalhaço do sol na varanda. É encontrar - iniciando na tevê - um filme que adora e já assistiu cinco vezes. É oferecer colo ao seu gato. É planejar uma viagem de férias. É terminar um livro que abandonou pela metade. É ouvir sua coleção de LPs da adolescência. É comprar uma calça jeans em promoção. É adormecer no sofá e receber a coberta silenciosa de sua companhia. É a possibilidade feminina de passar um batom e pintar as unhas. É possibilidade masculina de devolver a bola quando ela sobe a cerca num jogo de crianças
A felicidade é pobre. A felicidade precisa de apenas um abraço bem feito.
Sigo esperançoso. Não coleciono tragédias. Sofro e apago. Sofro e mudo de assunto, abro espaço para palavras novas, para lembranças novas.
Vejo o esforço da abelha tentando sair do vidro, e não sou melhor do que ela. Vejo o esforço da formiga carregando uma casca de laranja, e não sou melhor do que ela. Viver é esforço e nos traz a paz de sonhar – querer não fazer nada é que cansa.
Não existe dia que não ganhe conserto. Não existe dia morto, dia de todo inútil.
Não desista da alegria somente porque ela se atrasou. Pode ter recebido esporro do chefe, ainda assim a hora está aberta. Comer um picolé de limão é capaz de restituir sua infância.
Não encerre o expediente com o escuro do céu. Pode não ter grana para pagar as contas e ter que escolher o que é menos importante para adiar, ainda assim é possível se divertir com o cachorro carregando seu chinelo para o quarto.
Quando acordo com o pé esquerdo, sou canhoto. Não existe dia derrotado.
 
Publicado no jornal Zero Hora
Revista Donna, p.6
Porto Alegre (RS), 03/11/2013 Edição N° 17603

Uma Oração para os Vivos

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Adoro Carpinejar...





A PAIXÃO ACONTECE

Se você recusou sua rotina, deixou de fazer aquilo que mais gostava em nome de alguém, torrou seus bens, abandonou os amigos e os prazeres mais fundamentais, isso não é amor, é paixão.
A paixão é uma fatalidade, o amor é uma escolha.
A paixão é egoísta, o amor é generoso.
A paixão é renúncia, o amor é recomeço.
A paixão arrebenta, o amor adapta.
A paixão é confinamento, o amor é abrigo.
Não há paixão pequena, paixão simbólica, paixão discreta: é grandiosa no início e escandalosa no final.
Não recomendo, muito menos desaconselho: é experiência para os fortes.
Nada do que viveu antes terá sentido, nada do que possa viver depois terá sentido. Conjugará interminavelmente o presente do indicativo.
Atingirá um extremo emocional perigoso: você passa a ser do outro em tempo integral. Conhecerá sua pior crise de nervos, seu mais fundo estresse emocional, seu mais absurdo esgotamento da memória, sua mais humilhante falência financeira.
Uma vez apaixonado, você rejuvenesce 10 anos em 10 horas. Mas, uma vez desapaixonado, você envelhece 10 anos em 10 horas.
A paixão ou é imensa, ou não é. Ela não pede desculpa, não negocia: equivale a uma dependência química em seu estado mais selvagem.
É o equivalente ao sequestro de uma vida. A própria vida. Você é o sequestrador e o refém ao mesmo tempo.
Não há desconto, adiamentos, pechincha. A paixão exige pagamento à vista, execução sumária.
Nunca vi nenhum apaixonado transferir compromisso para o dia seguinte, ele somente antecipa.
Não é que a paixão seja rápida, é devastadora, não sobra coisa alguma para continuar.
O apaixonado não abre negócios, mas fecha portas. Não areja a cabeça, não tem grandes ideias, não combate preconceitos, emburrece progressivamente, a ponto de só ter um número para ligar e um lugar para ir.
Ele não tem sangue-frio, não raciocina, não elabora planos, não arruma álibis.
A paixão é um crime malfeito, facilmente descoberto.
Os envolvidos desprezam o mundo, não se importam se estão sendo vistos, se beijam em público, se são casados, noivos ou recém-viúvos, se serão criticados pelos vizinhos e familiares.
O apaixonado joga tudo para o alto e não fica para segurar nada.
Ele não tem discernimento, não lê jornal, perde sua capacidade de decidir sobre a trajetória. Apresenta a superstição de um velho, a intuição de uma criança.
É um idiota sábio. Idiota porque não se defende da tristeza, sábio porque não se protege da alegria.
Não existe mais bom e ruim, certo e errado, esquerda e direita. Não tem sentido julgar. Não tem como se orgulhar do que foi realizado, muito menos se arrepender.
Você muda de personalidade, larga trabalho, descuida da família para se dedicar inteiramente a não pensar e somente sentir.
Não podemos nem dizer se a paixão ajuda ou atrapalha, ela acontece. É uma sorte azarada.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

LENÇOL SUJO?


Um casal, recém-casados, mudou-se para um bairro muito tranqüilo.
Na primeira manhã que passavam na casa, enquanto tomavam café, a mulher reparou através da janela em uma vizinha que pendurava lençóis no varal e comentou com o marido:
- Que lençóis sujos ela está pendurando no varal!
- Está precisando de um sabão novo.
Se eu tivesse intimidade perguntaria se ela quer que eu a ensine a lavar as roupas!
O marido observou calado.
Alguns dias depois, novamente, durante o café da manhã, a vizinha pendurava lençóis no varal e a mulher comentou com o marido:
- Nossa vizinha continua pendurando os lençóis sujos!
Se eu tivesse intimidade perguntaria se ela quer que eu a ensine a lavar as roupas!
E assim, a cada dois ou três dias, a mulher repetia seu discurso, enquanto a vizinha pendurava suas roupas no varal.
Passado um tempo a mulher se surpreendeu ao ver os lençóis muito brancos sendo estendidos, e empolgada foi dizer ao marido:
- Veja, ela aprendeu a lavar as roupas, Será que outra vizinha ensinou??? Porque eu não fiz nada.
O marido calmamente respondeu:
- Não, hoje eu levantei mais cedo e lavei os vidros da nossa janela!
E assim é.
Tudo depende da janela, através da qual observamos os fatos.
Antes de criticar, verifique se você fez alguma coisa para contribuir, verifique seus próprios defeitos e limitações.
Olhe antes de tudo, para sua própria casa, para dentro de você mesmo.Só assim poderemos ter noção do real valor de nossos amigos.
Lave sua vidraça.
Abra sua janela.

Faça tudo valer a pena!

Durma quando o sono bater
Acorde quando Deus quiser
Assista menos TV 
Cante no chuveiro, escreva um livro, faça um filme, se apaixone todo dia 
por você... 
Pare tudo ao entardecer 
não importa o que tiver pra fazer 
Veja o sol se pondo no mar 
Ria sem motivo, pinte um quadro, veja desenho animado 
Se apaixone de verdade por alguém 
Faça tudo valer a pena
a vida é tão imensa e ao mesmo tempo é tao pequena 
Faça tudo valer a pena 
Dizer EU TE AMO não devia ser um problema 
Faça o que quiser fazer
Fale o que a voz quer dizer 
Que seja como tiver de ser 
Jogue o seu relógio fora, conte estrelas, molde nuvens 
Se apaixone todo dia 
pelo mesmo alguém 
Faça tudo valer a pena
a vida é tão imensa e ao mesmo tempo é tao pequena 
Faça tudo valer a pena 
Dizer EU TE AMO não devia ser problema pois, 
"tudo vale a pena quando a alma não é pequena" 
Faça tudo valer a pena
a vida é tão imensa e ao mesmo tempo é tao pequena 
Faça tudo valer a pena 
Dizer EU TE AMO não devia ser um problema 
Faça tudo valer a pena...
Faça tudo valer a pena... 

Música - Rub

terça-feira, 2 de julho de 2013

EU SOU BONITO



Parei de pintar as unhas depois de sete anos.
Parei de desenhar palavras na cabeça depois de cinco anos.
Parei de usar óculos coloridos de mosca depois de quatro anos.
Eu me escondia na extravagância, me ocultava com o exagero.
Ninguém falaria direto de minha feiura porque enxergaria primeiro as unhas pintadas, em seguida os cabelos estranhos, logo mais os óculos coloridos. O excesso de informação me salvaria do deboche.
Matava os olhos alheios pelo cansaço.
Atravessei minha vida distraindo o interlocutor com acessórios e disfarces. Ele não me via, ele me perdia com tanta coisa para olhar.
Se não havia jeito de anular o julgamento, complicaria o veredicto. Realmente me protegia do desaforo na irreverência. Era uma tática de guerra contra o bullying.
Como não tinha como não chamar atenção, busquei dominá-la, direcionar o alvo.
No fundo, jamais resolvi minha timidez, apenas criei um personagem para mediar os conflitos. Carpinejar foi meu amigo imaginário, Fabrício não passava de um menino encabulado vestindo as fantasias coloridas do escritor.
Mas cansei, não quero mais lutar contra a aparência, não pretendo mais combater nada nem ninguém.
Não é desistência, é aceitação de como sou. É serenidade. É sabedoria da precariedade.
Desejo a simplicidade, atrair o respeito tão somente pela voz e pelas ideias.
A alegria será a minha única loucura, o amor será meu único escândalo, a amizade será a minha mais veemente alegoria.
É óbvio que Juliana está sendo culpada pela transformação. Sempre a mulher do sujeito é dita como a responsável pela metamorfose. Como se o homem carecesse de personalidade para assumir suas escolhas.
Mas ela não fez nenhum pedido. Não interferiu em absolutamente coisa alguma. Jamais criou um pré-requisito ou estabeleceu uma condição para permanecermos juntos.
Sua existência é que me modificou. A partir dela, não preciso mais mentir, ocultar, distorcer, fingir, omitir, trapacear, exagerar.
Não tenho o porquê de não me apresentar inseguro e provisório.
Há agora em mim a honestidade de se entregar por completo, e não se envergonhar dos medos.
O que posso dizer é que com Juliana eu me sinto finalmente bonito.
Eu sou bonito.
Queria dizer que eu me acho bonito.
E não guardo receio de que alguém pense o contrário.
Sou bonito. Meu espelho é a verdade, não mais a beleza.

Fabrício Carpinejar

sexta-feira, 21 de junho de 2013

ORAÇÃO A MIM MESMO


Que eu me permita olhar e escutar e sonhar mais.
Falar menos. 
Chorar menos. 
Ver nos olhos de quem me vê a admiração que eles me têm 
e não a inveja que prepotentemente penso que têm. 
Escutar com meus ouvidos atentos 
e minha boca estática, 
as palavras que se fazem gestos 
e os gestos que se fazem palavras. 
Permitir sempre escutar aquilo que eu não tenho me permitido escutar. 
Saber realizar os sonhos que nascem em mim e por mim 
e comigo morrem por eu não os saber sonhos. 
Então, que eu possa viver 
os sonhos possíveis 
e os impossíveis; 
aqueles que morrem 
e ressuscitam 
a cada novo fruto, 
a cada nova flor, 
a cada novo calor, 
a cada nova geada, 
a cada novo dia. 
Que eu possa sonhar o ar, sonhar o mar, 
sonhar o amar, sonhar o amalgamar. 
Que eu me permita o silêncio das formas, 
dos movimentos, 
do impossível, 
da imensidão de toda profundeza. 
Que eu possa substituir minhas palavras 
pelo toque, 
pelo sentir, 
pelo compreender, 
pelo segredo das coisas mais raras, 
pela oração mental (aquela que a alma cria e 
que só ela, alma, ouve e só ela, alma, responde). 
Que eu saiba dimensionar o calor, experimentar a forma, 
vislumbrar as curvas, desenhar as retas, e aprender o sabor da exuberância que se mostra nas pequenas manifestações da vida. 
Que eu saiba reproduzir na alma a imagem que entra pelos meus olhos, fazendo-me parte suprema da natureza, criando-me 
e recriando-me a cada instante. 
Que eu possa chorar menos de tristeza e mais de contentamentos. 
Que meu choro não seja em vão, 
que em vão não sejam 
minhas dúvidas. 
Que eu saiba perder meus caminhos, mas saiba recuperar meus destinos com dignidade. 
Que eu não tenha medo de nada, principalmente de mim mesmo: 
— Que eu não tenha medo de meus medos! 
Que eu adormeça toda vez que for derramar lágrimas inúteis, 
e desperte com o coração cheio de esperanças. 
Que eu faça de mim um homem sereno 
dentro de minha própria turbulência, 
Sábio 
dentro 
de meus 
limites 
pequenos 
e inexatos, 
humilde diante de minhas grandezas tolas e ingênuas 
(que eu me mostre o quanto são pequenas minhas grandezas 
e o quanto é valiosa minha pequenez). 
Que eu me permita ser mãe, ser pai, e, se for preciso, 
ser órfão. 
Permita-me eu ensinar o pouco que sei 
e aprender o muito que não sei, 
traduzir o que os mestres ensinaram e compreender a alegria 
com que os simples traduzem suas experiências; 
respeitar incondicionalmente o ser; 
o ser por si só, 
por mais nada que possa ter além de sua essência, 
auxiliar a solidão de quem chegou, 
render-me ao motivo de quem partiu 
e aceitar a saudade de quem ficou. 
Que eu possa amar e ser amado. 
Que eu possa amar mesmo sem ser amado, 
fazer gentilezas quando recebo carinhos; 
fazer carinhos mesmo quando não recebo gentilezas. 
Que eu jamais fique só, mesmo quando eu me queira só. 
Amém. 

Oswaldo Antonio Begiato

sábado, 25 de maio de 2013

Saudades desse lugar tão meu...


Quem me compra um jardim com flores?
borboletas de muitas cores,
lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis nos ninhos?
Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol?
Um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua da Primavera?
Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?
(Este é meu leilão!)

Cecília Meireles

quinta-feira, 2 de maio de 2013

domingo, 28 de abril de 2013

quinta-feira, 7 de março de 2013

Amando Carpinejar...

Mulher Perdigueira

Meus amigos reclamam quando suas namoradas o perseguem. Lamentam o barraco do ciúme, a insistência dos telefonemas para falarem praticamente nada, o cerceamento dos horários.

Sempre as mesmas tramas de tolhimento da liberdade, que todos concordam e soltam gargalhadas buscando um refúgio para respirar.

Eu me faço de surdo.

Fico com vontade de pedir emprestada a chave da prisão para passar o domingo. Acho o controle comovente. Invejável.

Não sou favorável à indiferença, à independência, ao casamento sartreano. Fui criado para fazer um puxadinho, agregar família, reunir dissidentes, explodir em verdades. Duas casas diferentes já é viagem, não me serve.

Aspiro ao casamento pirandelliano, um à procura permanente do outro. Sou um totalitário na paixão. Um tirano. Um ditador. Não me dê poder que escravizo. Não me dê espaço que cultivo. Não me eleja democraticamente que mudo a constituição e emendo os mandatos.

Quero uma mulher perdigueira, possessiva, que me ligue a cada quinze minutos para contar de uma ideia ou de uma nova invenção para salvar as finanças, quero uma mulher que ame meus amigos e odeie qualquer amiga que se aproxime. Que arda de ciúme imaginário para prevenir o que nem aconteceu. Que seja escandalosa na briga e me amaldiçoe se abandoná-la. Que faça trabalhos em terreiro para me assustar e me banhe de noite com o sal grosso de sua nudez. Que feche meu corpo quando sair de casa, que descosture meu corpo quando voltar. Que brigue pelo meu excesso de compromissos, que me fale barbaridades sob pressão e ternuras delicadíssimas ao despertar. Que peça desculpa depois do desespero e me beije chorando.

A mulher que ninguém quer, eu quero. Contraditória, incoerente, descabida. Que me envergonhe para respeitá-la. Que me reconheça para nos fortalecer.

A mulher que não sabe amar recuando e não tolera que eu ame atrasado. Que parcele em dez vezes seu dia, que não pague a conversa à vista na hora do jantar, que não junte suas notícias para contar de noite como um relatório. Admiro os bocados, as porções, as ninharias. Alegria pequena e preciosa de respirar rente ao seu nariz e definir com que roupa vou ao serviço.

O amor é uma comissão de inquérito, é abrir as contas, é grampear o telefone, é cheirar as camisas. É também o perdão, não conseguir dormir sem fazer as pazes.

O amor é cobrança, dor-de-cotovelo, não aceitar uma vida pela metade, não confundi-la com segurança. Exigir mais vontade quando ela se ofereceu inteira. Enlouquecê-la para pentear seus cabelos antes do vento. Enervá-la para que diga que não a entende. E entender menos e precisar mais.

Quem aspira ao conforto que se conserve solteiro. Eu me entrego para dependência. Não há nada mais agradável do que misturar os defeitos com as virtudes e perder as contas na partilha.

Não há nada mais valioso do que trabalhar integralmente para uma história. Não raciocinar outra coisa senão cortejá-la: avisá-la para espiar a lua cheia, recordar do varal quando começa a chover, decorar uma música para surpreendê-la, sublinhar uma frase para guardá-la.

Sou doido, mas doido varrido. Bem limpo. Aprendi a usar furadeira e agora entro fácil em parafuso. Quero uma mulher imatura, que possa adoecer e se recuperar do meu lado. Uma mulher que me provoque quando não estou a fim. Que dance em minhas costas para me reconciliar com o passado. Que me acalme quando estou no fim do filtro. Que me emagreça de ofensas.

Não me interessa um tempo comigo quando posso dividir a eternidade com alguém.

Quero uma mulher que esqueça o nome de seu pai e de sua mãe para nascer em meus olhos. Em todo momento. A toda hora. Incansavelmente. E que eu esteja apaixonado para nunca desmerecê-la, que esteja apaixonado para não diminuí-la aos amigos.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Parabéns meu eterno SEVERO SNAPE!


Um dos atores mais elogiados da série, intérprete do considerado melhor personagem, faz aniversário hoje! Há 67 anos, em Londres, nascia um dos expoentes do cinema atual, um ícone que marcou a infância de muitos e nos fez emocionar como ninguém antes em um filme: Alan Sidney Patrick Rickman.

Confira no blog a homenagem ao gênio:http://migre.me/dm5Vv

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013